terça-feira, 26 de março de 2013

A armadilha do feminismo


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Fustel de Coulanges ou Friedrich Engels? “A cidade antiga” ou “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”? Sigmund Freud ou Edward Westermarck? Você pode escolher, caro leitor, o que lhe parecer mais convincente. Eu já escolhi.
Cada dia que passa, estou mais convencido de que as ideologias têm prazo de validade. Não me assustam essas tendências do politicamente correto em matéria sexual ou quejandos, nem essa histeria na defesa do feminismo. Claro, elas, essas tendências, causam um estrago incomensurável na sociedade; o efeito é o de uma hecatombe, de uma bomba nuclear. Fica um gosto bem amargo na boca. Mas passa. Vai passar.
Há alguns dias eu dizia que certas teses jurídicas têm o mesmo prazo de validade de um iogurte. O iogurte é conservado artificialmente. Em pouco tempo azeda. E, ainda assim, precisa ser conservado em um ambiente artificial para manter-se. É como o feminismo. Precisa do ambiente refrigerado e artificial da ideologia para manter-se. Precisa daquele quadradinho, daquele retângulo resfriado chamado cosmovisão, peculiar visão de mundo. A ideologia é do tamanho de uma geladeira.
Não sei se todos sabem, mas o feminismo está diretamente ligado ao marxismo cultural, a uma espécie de interpretação da história segundo a qual o casamento – vejam lá o que diz Engels no seu “A origem da família” – teria sido uma invenção cruel dos machos para expropriar das mulheres a mais-valia, o fruto do seu trabalho. Nesse sentido, o feminismo seria o antídoto para essa situação perversa.
O marxismo cultural não vê distinções reais entre os sexos. Por quê? Porque, como toda ideologia, é furado, é desmentido pela realidade. Para sobreviverem, as ideologias têm de ignorar a realidade. Têm de fingir que ela não existe. Têm de fugir do teste, do confronto com o mundo real. Para acreditar numa coisas dessas, o homem, o ser humano, tem de descrer de seus olhos e de seus ouvidos. Mas há quem o faça. Dostoiévski, no desconcertante “Memórias do subsolo”, diz que o homem é de tal modo afeiçoado à dedução abstrata que chega a deturpar a verdade, a descrer de seus olhos e de seus ouvidos apenas para sustentar a sua lógica. Há pensadores que querem convencer que têm razão, mesmo quando estão errados.
“A cidade antiga”, de Fustel de Coulanges, serve como uma refutação cabal das teses marxistas. Coulanges demonstra como o casamento e a família antigos formaram-se ao redor da religião. E não se trata da religião cristã. Trata-se da religião antiga. A mulher da antiguidade, quando se casava, passava a cultuar o deus do marido. Mudava de religião. Isso nada tinha a ver com a expropriação do trabalho da mulher. O homem antigo não era um capitalista ateu ou agnóstico. Era essencialmente religioso.
Desculpem-me o mau hábito. Gosto um pouco de expressões fortes. O mundo moderno está acostumado a cuspir no senso comum. Alguns inteligentinhos querem convencer-nos de um monte de ideias de plástico. Chesterton, ao falar de Nietzsche, no “Ortodoxia”, diz que quem não amolece o coração acaba amolecendo o cérebro. Há um tipo de conhecimento, de dados, que nos são entregues de presente pela realidade. São dons gratuitos do mundo real. Não precisam ser explicados. Qualquer homem simples do campo, com a luz da sua razão natural, com o uso do senso comum, sabe que homem e mulher são diferentes. Não têm eles o mesmo vigor físico, não têm a mesma disposição psicológica, não têm a mesma configuração anatômica. Têm diferentes e complementares órgãos sexuais.
Mas a ideologia politicamente correta, construída a partir de uma junção do marxismo com as teorias psicológicas de Freud, quer convencer-nos do contrário. Os papéis dos sexos não seriam naturais, mas socialmente construídos. Seriam moldados por uma estrutura opressora, de dominação, de poder. É o que diz Herbert Marcuse, autor da frase: “Faça amor, não faça guerra”.
Ora, a mulher não deve pretender ser um outro homem. Ela nunca o conseguirá. Nunca se realizará com isso. A plena realização e a felicidade só são alcançadas quando se busca e se vive a verdade sobre si mesmo. Isso passa pela correta compreensão da própria natureza, da própria sexualidade. Isso exige o uso da razão natural que eu gosto de chamar simplesmente de senso comum, algo que tem sido tão esvaziado, tão difamado e tão pouco compreendido.
Caso o leitor deseje informar-se mais sobre esse assunto, remeto-o para o meu artigo: “A moral burguesa como fonte dos ‘direitos sexuais’ e do novo conceito de ‘famílias’”, publicado no site jurídico Migalhas: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI168754,61044-A+moral+burguesa+como+fonte+dos+direitos+sexuais+e+do+novo+conceito .
Texto de Paul Medeiros Krause, Procurador do Banco Central em Belo Horizonte.

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